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O meu amigo Chico

Olá, o meu nome é… bem, para já, não me vou identificar! Poderão pensar: olha, mais um com a mania que é vedeta, não se identifica à espera que o reconheçam só pela escrita! Nada mais errado, meus amigos. Não me identifico porque a minha história roça a ilegalidade, e problemas já eu tenho de sobra na minha vida, dispenso mais alguns só por causa da “epopeia” que lhes vos contar!
Estamos no final da década de 80, não sei precisar o ano. Lembro-me que era rapaz novo, atinado e sossegadinho (sim, ainda há malta dessa). Mas um dia algo aconteceu que mudou a minha vida e a de todos lá por casa.
O meu pai era marinheiro, e sempre que voltava das suas “expedições”, trazia-nos surpresas e novidades, que passavam por máquinas fotográficas russas, rádios com leitores de cassete (daqueles em madeira, que ainda tinham o botão vermelho para gravar), entre muitas outras coisas. Mas um belo dia, num dos seus regressos, tive uma visão: vi Vasco da Gama a sair do barco! Perguntam vocês: como assim, Vasco da Gama? Então imaginem um homem com mais de metro e oitenta, cabelo pelos ombros, barba à Pai Natal, e com um papagaio ao ombro e um macaco pela trela! Sim, isso mesmo, um chimpanzé cheio de energia que o acompanhava à chegada a terras lusitanas.
Imaginam o contentamento de qualquer criança em receber uma prenda, todos os miúdos gostam de presentes, mas conseguem imaginar o que é ganhar um chimpanzé como animal de estimação? UAU!
Nós nunca tivemos um animal de estimação dito “normal”, o cão, o gato, a tartaruga, nada disso. Tivemos um cágado gigante, um periquito rabo de junco, gafanhotos, e claro está, um macaco. Talvez seja importante para a história explicar que vivíamos num T2, em Lisboa, e que ter um chimpanzé em casa não era propriamente legal….
Voltando à nossa história, rapidamente o chimpanzé ganhou nome: CHICO! Bem sei, nada original, mas para uma criança com 10 anos e a sua irmã com pouco mais, não se pode pedir muito.
Trouxemos então o Chico para nossa casa, e como tínhamos um pequeno terraço, e era verão, achámos que o Chico poderia ter o seu espaço no exterior do apartamento. Fizemos uma pequena casa em madeira, arranjámos um sítio para ele comer e beber água, mas depressa percebemos que ele preferia estar connosco em casa, a fazer-nos companhia. Bem, outra coisa que ele também preferia era acompanhar-nos nas refeições, e ficámos a saber que o Chico gostava de vinho. Sim, um dia o Chico apanhou-se com vinho do porto, mas atenção ao pormenor, ele bebia do copo, tal como os adultos lá de casa, não era menino de meter a garrafa à boca. Obviamente, o Chico nesse dia ficou bêbado, e no dia seguinte andava de ressaca como qualquer ser humano, com os olhos meio fechados, o andar arrastado e com as patas na cabeça a indicar uma bela cefaleia.
Neste momento já acham que isto poderia dar uma boa história para “O Homem que mordeu o Cão”, mas até hoje esta história tem andado apenas no seio da família e amigos mais íntimos. Quem sabe um dia, o Sr. Markl não pega nesta odisseia símia e não faz um programa de sucesso!
Mas como devem entender, por todos os motivos que já lhes passaram pela cabeça, não é “adequado” ter um chimpanzé num apartamento em plena Lisboa. E compreendemos isso da pior forma, quando uma noite começou a chover e nós, cheios de pena do pequeno Chico (pequeno com cerca de 80 cm e uns bons 40 kg), o deixámos ficar na cozinha, com acesso à sua fruta diária, alguns legumes e água à discrição. Tal não foi o nosso espanto quando, no dia seguinte, pela manhã, provinha da cozinha um cheiro nauseabundo a fezes de macaco… meus amigos, o Chico, ao ver-se sozinho naquele espaço, decidiu fazer a sua casa de banho por todo o lado, e desconfiamos ainda que tinha o prazer de atirar com as fezes contra os armários da cozinha.
Foi nesse momento que o meu pai compreendeu que um macaco num apartamento é capaz de não funcionar! O fato da minha mãe lhe ter dito que ou saía o macaco ou saía ela, também é capaz de ter ajudado na decisão.
Claro está que acabámos por fazer o que devíamos ter feito desde o início, que era entregar o chimpanzé ao Jardim Zoológico de Lisboa, para ser bem tratado e cuidado com tudo o que um chimpanzé merece. Como recompensa, ainda ganhámos bilhetes para o Zoo durante anos! Será que o crime compensa?
Até à próxima!