Psicologia

O fogo de artifício e o impacto nos animais – vale a pena refletir…

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Os fogos de artifício são muito apreciados por nós e remetem-nos para as festividades do novo ano. O brilho e a iluminação fascinam-nos e naqueles minutos sentimo-nos repletos dessa magia.

Vamos ouvindo por aí que o fogo de artifício tem um impacto negativo nos animais. E que é perigoso. Muitos acreditam, outros não, mas penso que vale a pena parar 5 minutos hoje e refletirmos sobre este assunto.

O som e o brilho são fontes de perturbação para inúmeras espécies de animais domésticos mas também selvagens. Como na maioria das vezes o fogo de artifício é utilizado no período noturno, as respostas comportamentais dos animais são difíceis de serem percebidas e quantificadas, dificultando a deteção dos efeitos negativos que possam causar, principalmente nos animais selvagens.

Toda a espécie animal possui características e particularidades que precisam ser respeitadas para que o seu bem-estar seja garantido. E aqui…destaca-se a sensibilidade auditiva. Possivelmente o som dos fogos não perturba os seres humanos por estar associado a situações comemorativas e simbólicas. Os animais não têm esta consciência, para além de que são, de facto, mais sensíveis a ruídos de alta frequência do que  o Homem.

O nível de medo é proporcional à intensidade do estímulo e pode diminuir ou cessar após um processo de habituação, já a fobia é uma resposta de medo intensa e desproporcional, pois não depende da intensidade do estímulo e tanto pode aparecer após um único episódio de exposição, como também após exposições repetitivas, dependendo das características individuais e da experiência prévia de cada animal.

Os estímulos associados ao medo desencadeiam respostas fisiológicas de stresse agudo por meio da ativação do sistema neuroendócrino, que resulta numa resposta de luta ou de fuga, e que pode ser observada através do aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição periférica, dilatação da pupila e alterações no metabolismo da glicose.

O animal doméstico, movido pelo medo, procura afastar-se do estímulo stressante, tenta esconder-se dentro ou por baixo de móveis ou espaços restritos, pode tentar fugir pela janela, cavar buracos, tornar-se agressivo, apresentar salivação excessiva, respiração ofegante, diarreia temporária, urinar ou defecar involuntariamente.

As aves, por exemplo, podem abandonar o seu ninho em revoada. Há também possibilidade de ocorrer acidentes durante a tentativa de fuga, tais como atropelamentos, quedas, colisões ou o desaparecimento do animal, que pode percorrer longas distâncias em estado de pânico e depois não conseguir retornar ao seu local de origem.

Ainda que o uso de fogos de artifício seja esporádico, a preocupação com os danos provocados nos animais é legítima, pois as reações de medo a determinados ruídos específicos podem ser generalizadas para outros ruídos semelhantes.

O medo do som do trovão, por exemplo, pode surgir secundariamente ao trauma causado pelo medo dos fogos.

Sabemos que os eventos que precedam a situação desagradável podem ser suficientes para desencadear as reações de medo e cada evento pode agravar ainda mais o problema.

O que a investigação nos diz?

Segundo estudos na área, 20% dos cães com fobia de ruídos possuem problemas suficientemente graves a ponto dos donos procurarem ajuda profissional. O desencadeamento de problemas comportamentais é preocupante, pois, em muitos casos, podem ser motivo para que os donos abandonem os seus animais.

Na Escócia, a Sociedade de Prevenção contra Crueldade Animal (SPCA) realizou durante o ano de 2001 uma pesquisa com 193 veterinários sobre suas experiências profissionais relacionadas aos danos causados por fogos de artifício. Os problemas relatados variaram desde stresse e ansiedade até lesões fatais e necessidade do uso de sedativos. Dos veterinários entrevistados 90% já se depararam com este tipo de problema, revelando um total de 2.430 animais atendidos em consulta, dos quais 91% eram cães e 9% gatos, além de animais selvagens, cavalos e animais de produção. Dos entrevistados, 33% relataram casos graves decorrentes do stresse causado pelo medo dos fogos, tais como: atropelamentos, insuficiência cardíaca após convulsão; crise de bronquite aguda; desorientação; aborto em coelhos; e até tentativa desesperada de fuga levando um cão a cavar uma parede de cimento.

Na Holanda, um estudo mostrou alta atividade das aves logo após os fogos de artifício na véspera de Ano Novo. A perturbação levou-as a voar a uma altura de centenas de metros, em contraste com os vôos registrados diariamente, que normalmente ocorrem em torno de 100 metros, e a percorrer uma distância maior do que a normal até pousar novamente. Embora os fogos de artifício não sejam diretamente letais para as aves, alguns fatores desencadeados por eles podem ser potencialmente fatais, tais como desorientação ou necessidade de voar em situações climáticas desfavoráveis durante a reação de desespero.

E os nossos animais domésticos, quais as dicas para prevenir o stress?

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Não deixe o seu animal sozinho

É muito importante que o animal não fique sozinho durante o fogo de artifício. Se ele estiver sozinho, pode pensar que está em perigo e pode tentar fugir da casa ou apartamento.

A companhia também pode ajudar em casos de animais com epilepsia ou convulsões, por exemplo. O barulho pode servir de gatilho para crises de ansiedade, e com o tutor por perto, o cuidado é imediato.

Crie um ambiente seguro e calmo

Uma técnica muito útil para acalmar os animais é criar um ambiente para eles ficarem. Um espaço e ambiente que transmita segurança e conforto, que o animal sinta que o barulho está do lado de fora, longe dele (exemplo, fechar portas, janelas, persianas, cortinas).

Mantenha uma atitude positiva

Os animais domesticados tendem a observar muito o comportamento dos donos, e isso reflete diretamente no comportamento deles. Durante o fogo de artifício, tente manter uma expressão positiva, transmitindo segurança para que os animais passem por esse momento com calma.

Uso de medicação

Existem alguns remédios que podem ajudar na hora do fogo de artifício. Estes produtos não vão deixar o animal dopado, apenas mais tranquilo para se habituar ao barulho. É crucial que o dono consulte um veterinário de confiança para que ele possa avaliar qual é a melhor opção para o caso.

Habitue o animal aos barulhos altos

Outra técnica que ajuda muito a acalmar os animais é acostumá-los aos barulhos de frequência elevada. Acostumá-los aos sons, ruídos, música enquanto se diverte com ele, por exemplo.

E o leitor, que estratégias utiliza para auxiliar o seu animal de estimação durante as festividades? Deixe a sua sugestão!

Um feliz ano de 2022!

Gisela????

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