Psicologia

Intervenções e atividades assistidas por animais

animais

De certo que já ouviu falar em terapia e atividades com animais, mas saberá o leitor diferenciar o que é realizado no âmbito terapêutico e do que é praticado no âmbito recreativo?

Hoje dedico o artigo na definição e delimitação destas práticas!

A primeira utilização intencional de animais para fins terapêuticos foi documentada no século XI, num hospital Belga, onde os doentes portadores de deficiência cuidavam de aves, sendo essa atividade considerada benéfica para os próprios doentes. No século XVIII, em algumas instituições de saúde na Europa, existiam animais residentes, por exemplo, galinhas e coelhos num hospital psiquiátrico em Inglaterra, como elementos necessários à terapia de doentes com alterações do comportamento, nomeadamente do autocontrolo.

Desde a segunda metade do século XX, os benefícios da interação animal têm sido, cada vez mais, alvo de estudo. Existe, atualmente, uma variedade considerável de conceitos associados à terapia assistida por animais, o que reflete uma diversidade de práticas e uma necessidade de esclarecimento das mesmas.

Atualmente, o termo Terapia Assistida com Animais tem sido bastante debatido e existe uma tendência crescente em chamar de “terapia” a todo o tipo de programas nos quais existe uma relação com animais. O termo “terapia” é relacionado, muitas vezes, com experiências que nada têm a ver com a sua definição.

É crucial entender a diferença entre Intervenções Assistidas com Animais e Atividades Assistidas com Animais, e tão ou mais importante, saber quem as pode desenvolver.

Embora não exista uma definição de Terapia Assistida por Animais (TAA) considerada oficial e unânime, a mais aceite é a da Pet Partners (Goddard, 2015), associação americana responsável pelo treino e certificação dos serviços relacionados com Intervenções Assistidas por Animais (IAA).

Assim sendo, as Intervenções Assistidas por animais são intervenções estruturadas e orientadas por objetivos na área da saúde, educação e serviço, de forma a melhorar a saúde e bem-estar do Homem, com benefícios terapêuticos. É uma intervenção com objetivos definidos que inclui a presença/participação ativa de animais nas áreas da saúde e educação, com a finalidade de proporcionar benefícios terapêuticos. Dentro das IAA existem dois tipos de intervenção:

  1. Terapia Assistida com Animais (TAA) – é uma estratégia terapêutica orientada e planeada para cada pessoa. Pode ser praticada por terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas relacionados com a saúde mental, da fala ou outros formados especificamente para este fim. Podem ser utilizados vários animais, e é aplicável a todas as faixas etárias. A duração da intervenção, o local e o número de indivíduos por sessão varia consoante a patologia, o doente e os objetivos As TAA têm como objetivo melhorar funções físicas, cognitivas, comportamentais e/ou socio-emocionais, na qual o animal é parte integrante do processo terapêutico.
  2. Educação Assistida com Animais (EAA) – é uma intervenção com metas definidas, planeada e estruturada, aplicada por profissionais da área da educação. A EAA é implementada por professores qualificados, tanto em educação geral como em educação especial, que tem como objetivo melhorar o sucesso académico, capacidades sociais e função cognitiva. O progresso do aluno é medido e documentado.

As Atividades Assistidas com Animais (AAA), por sua vez, são interações informais/visitas muitas vezes realizadas pelo binómio humano-animal para fins motivacionais, educativos e recreativos. Estas interações não têm objetivos terapêuticos. As AAA são geralmente facilitadas por indivíduos que não têm formação na área da saúde, da educação ou de serviço social.

Nos próximos artigos iremos abordar as várias intervenções e atividades, porém hoje ficamos com mais um pouco sobre as Terapias Assistidas por Animais:

animaisA Terapia Assistida por Animais é uma prática com critérios específicos, onde o animal é parte principal e integrante do tratamento, e tem como objetivo promover o desenvolvimento social, emocional, físico e cognitivo.

Esta terapia pode promover a saúde física através de três mecanismos básicos que incluem:

(1) a diminuição da solidão e da depressão,

(2) a diminuição da ansiedade e

(3) um aumento do estímulo para a prática de exercícios.

Este tipo de terapia (TAA) pode ser aplicada em áreas relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e sensorial, no tratamento de distúrbios físicos, mentais e emocionais e em programas destinados a melhorar a capacidade de socialização e a autoestima.

Segundo o estudo de Braun et al (2009), existem fortes evidências estatísticas sobre a efetividade da TAA na redução da dor em crianças. O estudo demonstra que a TAA reduziu cerca de 4 vezes mais a dor do que o repouso de 15/20 min experienciado pelo grupo de controlo. A diminuição da dor experienciada em 15 min nestas crianças de idades compreendidas entre 3-17 anos é comparada à proporcionada pelo medicamento acetaminofeno. Houve ainda um caso de diminuição de dor de 8 para 0 (escala de dor), sem a administração de analgésicos por pelo menos 3 horas.

O impacto na redução da dor pode ser explicado pelo conhecido papel dos animais na modulação da resposta psiconeuroendocrina: as emoções promovem uma resposta neurológica e imunológica mediada bioquimicamente: ou seja, o contacto com animais estimula a libertação de endorfinas, que por sua vez induzem a libertação de linfócitos, e que levam a uma sensação de bem-estar e aumento da resposta imunitária, respetivamente.

Indicadores fisiológicos, como a redução da frequência cardíaca, a redução da pressão arterial, a redução da frequência respiratória, o aumento da temperatura periférica e a contração pupilar são indicadores da redução da atividade do sistema nervoso simpático e da ativação do sistema nervoso parassimpático.

Maravilhoso, não é?

Continuaremos!

Gisela

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