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As férias… e o abandono dos animais!

A que lhe cheira o mês de Julho? Julho chega em grande. Com mais sol. Com mais luz natural. Com dias maiores, noites mais quentes. Com as cores e sabores a verão.
Já só pensamos nas férias, no descanso, nas energias recuperadas. Nas noites quentes de sorrisos constantes.
Mas com o calor das férias chegam também as frequentes notícias da realidade do abandono animal. É um mês crítico, bem como o de Agosto.
E o nosso artigo deste mês é sobre essa triste realidade: o abandono animal.
Em Portugal são abandonados mais de 10 mil animais por ano, sendo estes maioritariamente cães. Sim, mais de 10 mil!
O abandono de animais ocorre, na verdade, durante todo o ano. E não apenas no verão. Mas é neste que se verifica uma maior incidência. E parece-me a mim que é a altura perfeita para escrever sobre esta temática.
Escrevo este artigo para que estimule a reflexão de todos nós. Escrevo não para chocar, mas para sensibilizar para este problema que é real e que muitos consideram não ter uma grande expressão. Mas são mais de 10 mil. Caramba, são muitos!
Conhecem os motivos inerentes ao abandono dos animais de estimação?
Vamos então enumerá-los, aleatoriamente (perdoam-me qualquer dureza ou ironia nas palavras ou expressões utilizadas):
Férias. Vamos de férias e é complicado adaptar a rotina do nosso animal de estimação. Vamos para um hotel, e não é permitida a entrada de animais. Queremos ir para restaurantes, conviver, passear livremente, sem problemas, sem condicionantes, sem olhares de reprovação. Sem andar preocupado se o cócó foi apanhado do chão. Se a ração chega ao final da semana. Queremos liberdade. De tudo, inclusive de rotinas, de ligações, de afetos.
Gravidez ou nascimento de um filho. A família vai aumentar e existem tantas adaptações a fazer, uma das quais… na crença do impacto ou perigosidade que um animal pode ter na saúde de todos. Na saúde do bebé. Na saúde familiar.
Problemas de comportamento. O animal que se revela (muito ou pouco) agressivo. Que defeca ou urina em espaços inapropriados. Que tem comportamentos destrutivos. Que não se consegue regular, controlar, acalmar. Que é simplesmente um animal, com instintos, que pode errar, falhar, descuidar-se. E, portanto, o abandono na rua será a sua maior escola, de desilusão.
Mau desempenho na sua função. Não é um bom caçador. Não é um bom reprodutor. Não guarda bem a casa. Brinca muito, ladra e assusta pouco. Faz muita companhia, mas dá pouco lucro.
Dificuldades económicas. Que surgem e que exigem novas readaptações, de todos e em tudo, é um facto. E despejar o animal na rua irá resolver, certamente, todos os problemas económicos.
Cresceu muito. Nem sempre o crescimento do animal é 100% previsível. Há a hipótese do animal crescer mais do que se esperava. De crescer mais do que a casa permite. Porque é que ele quando nasceu não percebeu logo, pela habitação que o acolheu, que não podia crescer muito?
Faz muitas asneiras. Adulto ou jovem, tem muita energia, gosta de brincar, não se cansa de correr, esbarra nos objetos, rói muito. E eu pensava que o animal ia ser tão sossegado e obediente como o do vizinho. Porque é que tudo o que o vizinho tem parece-me melhor?
Não contar com os problemas de saúde. Não esperar que, tal como todos os humanos, há a hipótese de adoecer. E envelhecer, não é suposto? Que pode ser necessário tratamento pontual, ou tratamento prolongado. Que será necessário recorrer ao veterinário. Muitas…ou poucas, ou raras vezes.
Puxem pela vossa criatividade.
Quando acolhemos um animal temos que saber que é um ser com características particulares: pode ser muito brincalhão ou mais sossegado, pode crescer muito ou crescer pouco, a rotina pode ser mais difícil de “encaixar” nas nossas vidas, o cão vai envelhecer, vai deixar-me zangado de vez em quando, entre outros.
A decisão de ter um animal é para muitos anos e tornamo-nos os responsáveis por eles. Por isso, temos que ter a certeza que será um membro da família em todas as circunstâncias.
O abandono de um animal não deve ser a solução para qualquer obstáculo que surja e é hoje considerado um crime punível (Lei n.º 69/2014, de 29 de agosto artigo 388º) com prisão até 6 meses ou multa.
Como podemos, então, combater o abandono animal?
O abandono dos animais tem aumentado de ano para ano, provavelmente devido à crise económica. As associações e canis são, de momento, insuficientes para tal número de animais abandonados e acabam por recorrer à eutanásia. Por exemplo, no último ano foram abandonados 26 000 cães e 7 000 gatos, tendo sido eutanasiados 14 000 animais. Outro número chocante?
Eis medidas que podemos (começar) a pensar/partilhar/sensibilizar:
– Sensibilização da população para os direitos dos animais. A população deverá ser instruída sobre os animais de forma a tratá-los como seres vivos e não como objetos, tal como é previsto na lei.
– Desmistificação da castração dos animais. Para os animais o ato sexual é apenas reprodutivo e a frustração de não poderem cumprir essa função na época do cio é mais lesiva do que a castração em si.
– Castração de animais. Implementação de incentivos e campanhas de castração de animais de companhia com o objetivo de reduzir o número de ninhadas por ano.
– Identificação eletrónica: o chip é obrigatório em animais nascidos desde 2008 mas é apenas colocado em 30% dos animais. O chip permite a identificação dos donos de animais perdidos ou abandonados.
– Aumento da fiscalização. Fiscalização incidindo sobre a identificação eletrónica estimula a colocação do chip.
– Estimular a adoção. Campanhas de adoção para que os animais nas instituições encontrem um novo lar.
– Adoções conscientes. Quando adota um animal deve estar consciente do tempo e dinheiro que precisará de investir no animal. A decisão deverá passar pela família e deverá certificar-se que ninguém é alérgico.
Remeto a conclusão do artigo para si:
– Qual o motivo do abandono que o deixou mais incomodado?
– Que outros motivos conhece?
– Que medidas podem fortalecer a prevenção do abandono animal?
– Quantos animais terão sido abandonados enquanto este artigo era redigido?
Relativamente ao verão, as férias terão o seu início mas também o seu fim. As atitudes que temos perpetuam-se e ecoam dentro de nós.
Quem abandona um animal, não abandona só o animal. Mas também um pouco de si.
Boas férias para quem está a iniciar!
Com amor,