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Os nossos animais de estimação e o impacto da pós pandemia

A pandemia impactou de forma negativa na nossa vida, na nossa dinâmica familiar, na nossa vida social, no nosso bem-estar físico e psicológico. A nossa rotina sofreu fortes alterações que nos foram impostas e exigidas. Mudanças repentinas e readaptações constantes.
Mas, se para nós a pandemia foi maioritariamente sentida como nefasta, há quem a sinta como positiva: os nossos animais de estimação. Esses, a maioria, puderam sentir a presença mais permanente dos seus donos na habitação. E quem tem cães e gatos facilmente reconhece a vantagem que o confinamento trouxe para estes: “dono em casa o dia todo só para mim!” (bom…talvez os felinos tenham revelado uma postura mais altiva e de indiferença, ou pelo menos…assim “fingem”!).
Com o desconfinamento as rotinas tendem a normalizar e a ausência do dono no domicílio torna-se mais frequente. E é aqui, neste regresso à normalidade, que a ansiedade da separação pode surgir. E nesta possibilidade, convém estarmos preparados, compreendermos o que a síndrome da ansiedade de separação significa, quais os sinais de alerta (sintomas) e como podemos prevenir ou atenuar o seu impacto na qualidade de vida dos animais de estimação.
Síndrome da Ansiedade de Separação – o que consiste?
A síndrome de ansiedade de separação em animais consiste num distúrbio de comportamento animal. É caracterizado por comportamentos indesejados quando estes são afastados dos donos ou outras figuras de afeição. Pode ser outra pessoa ou até mesmo outro animal.
Síndrome da Ansiedade de Separação – que relação com o pós-confinamento?
Caracterizados pelo seu perfil mais dependente (ou carente?), são os cães que mais poderão sofrer com esta patologia. Os profissionais especializados em comportamento canino sugerem que haverá um aumento significativo na síndrome de ansiedade de separação (SAS), especialmente entre os seguintes grupos de cães:
(a) cães que anteriormente sofriam de ansiedade leve ou moderada ou cães que já foram tratados neste quadro;
(b) cães recém-adotados e que nunca ficaram sozinhos por muitas horas desde que chegaram à nova casa;
(c) cães que não apresentavam sinais da ansiedade por separação previamente, mas, devido à falta de treino dos tutores, sofrerão com uma mudança muito brusca da rotina.
Se sente que o seu animal de estimação pode estar (ou com risco) a sofrer com a ansiedade de separação, então é urgente começar a planear e agir no imediato (identificar o problema e agir o quanto antes). A identificação do problema passa pelo reconhecimento dos sinais de alerta (sintomas):
(a) uivar, latir e chorar de forma excessiva;
(b) defecar ou urinar em locais inapropriados (quando já existe treino prévio);
(c) mastigar ou comer objetivos não comestíveis;
(d) cavar tapetes e pisos, arranhar portas e janelas;
(e) respiração ofegante e salivação excessiva (excluindo outros fatores – quadros clínicos).
Alerto para o facto de que estes sinais devem persistir numa elevada frequência, pois, por exemplo, a destruição de objetos (isoladamente) pode significar apenas presença de tédio ou frustração e não ansiedade, assim como a presença de fezes ou urina na habitação pode ter outro significado clínico que não a ansiedade.
Felizmente existe um conjunto de dicas que pode ajudar a prevenir ou a atenuar a ansiedade de separação. Vamos às dicas?
Períodos de separação: ainda durante o isolamento/quarentena coloque o seu patudo numa divisão da habitação separada de si cerca de aproximadamente 30 minutos de cada vez (várias vezes por dia). A intenção é o seu animal de estimação reconhecer que existe separação física (mas não emocional), habituando-se à ideia de estar sozinho (e ainda assim sentir-se seguro). Pode começar com períodos de separação mais curtos e ir aumentando até 30 minutos de cada vez (no máximo).
- Zona de conforto: garantir a existência de um local confortável para que o seu patudo possa descansar com toda a tranquilidade. Este espaço de segurança e conforto deve estar disponível sempre e não ser uma imposição.
- Minimizar os distúrbios: sabemos que os ruídos do exterior podem provocar, no seu patudo, maiores latidos. Se possível, quando estiver sozinho, deve permanecer numa zona da casa mais tranquila e silenciosa, com poucos estímulos exteriores à habitação.
- Brinquedo especial: manter o brinquedo sempre disponível e acessível durante a sua ausência na habitação. A presença do brinquedo especial irá impactar positivamente no bem estar do seu patudo: ficará mais relaxado e calmo.
- Antes da sua rotina diária (e.g. ir trabalhar) tente providenciar um período de atividade física: o seu patudo irá gastar energia e ficará mais calmo enquanto fica sozinho.
- Sempre que sair ou entrar da habitação, mantenha-se calmo/a: desta forma irá mostrar ao seu patudo que as partidas e as chegadas não são motivo de ansiedade. Que quem chega vai embora e que quem vai embora volta. O ideal é, nestes momentos, ficar em silêncio e manter os cumprimentos discretos e calmos.
- Trabalhar a sua própria ansiedade: fundamental, não é? Se está feliz, o seu patudo irá sentir essa felicidade. Se está triste, ele irá reconhecer essa emoção em si. Da mesma forma, o seu patudo irá sentir a sua ansiedade manifestando-a também.
- Ajuda profissional: se considerar necessário (por si, pelo seu animal de estimação, ou por ambos) procure ajuda profissional num especialista em comportamento animal. Um especialista pode ajudar num plano de dessensibilização e contra-condicionamento.
Lembre-se: a mudança de rotina não deve ser tão abruta e radical. Empatize-se com a situação: como se sentiu quando foi obrigada/o a ficar isolada/o em casa repentinamente quando se iniciou o confinamento? Sentiu mais agitação, frustração, ansiedade, irritabilidade? São as suas emoções, e está tudo certo.
O seu animal de estimação também é um ser emocional e, portanto, também pode ficar mais irritado, frustrado, abatido ou ansioso perante alterações de rotina.
A si, com ou sem animal de estimação, desejo um desconfinamento consciente, seguro e tranquilo!
Sempre vossa e com amor,